Arquitectos apelam ao Presidente Putin para salvar a Torre Shukhov
Construída entre 1920 e 1922, a mando de Lenine, a Torre da Rádio e Televisão russa é vista como a "Torre Eiffel" de Moscovo.
Desactivada desde há décadas, a torre, que fica escassos quilómetros a sul do Kremlin, apresenta evidentes sinais de degradação, e mesmo de ruína, e o Comité Estatal Russo da Rádio e Televisão, seu proprietário, anunciou no passado dia 25 de Fevereiro a intenção de a demolir – decisão que poderá vir a ser ratificada já no próximo dia 24 de Março.
A notícia veio mobilizar, de novo, a opinião pública internacional, e em particular figuras conhecidas nas áreas da arquitectura, da engenharia e do património, para o destino deste monumento, visto como uma espécie de resposta soviética à Torre Eiffel – o projecto inicial da torre da rádio em Moscovo, uma encomenda de Lenine logo após o final da Revolução bolchevique de 1917, apontava mesmo para uma altura de cerca de 350 metros, acima, por isso, dos 320 metros da torre de Paris, mas acabaria por ficar nos 160 metros.
A Torre Shukhov é uma belíssima estrutura cónica em ferro treliçado com 50 andares organizados em cinco secções, que vão sendo mais curtas conforme vai subindo. Assenta sobre uma base de betão, e está localizada junto à estação de metro de Shabolovskaya – de onde é também conhecida como Torre Shabolovskaya.
O autor da torre, com a qual Lenine queria espalhar aos quatro ventos a mensagem internacionalista do comunismo triunfante, foi Vladimir Shukhov (1853-1939), um pioneiro da engenharia considerado o “Eiffel russo”, e que foi também autor do primeiro pipeline do Império Russo, de petroleiros e de diversas pontes.
A Torre Shukhov foi substituída na década de 1960 pela Torre Ostankino, para a difusão da rádio e televisão, e desde então está votada ao abandono e à progressiva degradação. O facto motivou a mobilização de sectores da opinião pública, primeiro nacional e depois internacional, quanto à necessidade de intervenção e recuperação deste património histórico.
Em 2009, Vladimir Putin, então primeiro-ministro da Rússia, manifestou a intenção de avançar com o seu restauro e transformação em atracção turística – actualmente, o acesso à torre continua vedado aos visitantes. Um ano depois, recorda o jornal The New York Times, o arquitecto britânico Norman Foster associa-se a uma primeira campanha internacional chamando a atenção para a necessidade de salvar a torre, que classificou como “uma estrutura de um brilho deslumbrante e de grande importância histórica”.
O jornal nova-iorquino avança mesmo que a Torre Shukhov terá estado na origem do mediático projecto que Foster concebeu para o quarteirão londrino Swiss Re, junto ao Tamisa.
A situação da torre, que não é alvo de qualquer intervenção de conservação desde há duas décadas, foi tema de debates internos. E houve mesmo quem, na Rússia, tivesse avançado com a ideia da sua reconstrução noutro lugar. Algo que os defensores da torre consideraram inaceitável, pela alteração do contexto histórico da sua realização.
Na semana passada, e com data de 13 de Março, uma nova petição internacional, dirigida ao (agora) Presidente Putin, foi lançada com o objectivo de anular a intenção de demolição anunciada pelo Comité Estatal Russo da Rádio e Televisão e de salvar a torre. Entre os signatários da petição estão agora – avança o TNYT – figuras como os arquitectos japoneses Tadao Ando e Kengo Kuma, o holandês Rem Koolhaas, presidente da próxima Bienal de Arquitectura de Veneza, o presidente da Tate de Londres, Sir Nicholas Serota, o fotógrafo inglês Richard Pare e o professor de arquitectura em Nova Iorque Jean-Louis Cohen, os professores Joerg Haspel, presidente da ICOMOS-Berlim, ou Clementine Cecil, fundadora da Sociedade de Salvaguarda da Arquitectura de Moscovo.
A coordenar esta petição estão, a nível internacional, Richard Pare e Jean-Louis Cohen, e, em Moscovo, Vladimir Shukhov, neto do autor da torre, e que tem o mesmo nome.
“A torre é um farol e o símbolo de uma civilização progressista, que olha para o futuro”, diz o texto da petição, que pede mesmo a intervenção da Unesco e a sua classificação na lista do Património Mundial.
“A impressão que temos quando estamos junto à torre é inesquecível”, comentou, para o TNYT, Richard Pare, acrescentando que a sua importância contrasta mesmo com o mausoléu de Lenine – é como “ir da luz à escuridão em apenas 8 anos”, escreve.